domingo, 1 de junho de 2008

Cubos, vazio interior em azuis melancólicos



Cubos

As pessoas criam mundos ao redor de si.
Mundos que se perpetuam em dimensão e profundidade.
Mundos para se proteger do que elas odeiam, ou para se refugiar no que elas amam.
Criam um universo de isolamento, que ao entrar, o sentimento pode ser de liberdade, vasto, eterno em suas pequenas dimensões físicas. Um quarto de adolescente pode ser uma galáxia para ele e seus temores com o externo.
Uma cela para um preso é um universo. Pequeno, oprimido e dilacerante.
Complexos interiores são universos que uma pessoa trafega, vagueia, se perde, se martiriza, enquanto se eterniza o cárcere problema. Pode ser um complexo minúsculo, bobo. mas para quem sofre é um cubo invisível, quase impossível de se libertar.

Outros vivem num cubículo aparentemente pequeno de sentimentos interiores. Mas que se perdem na extensa dimensão amorosa, onde latitudes e longitudes são, por assim dizer, imensuráveis. Esse é o universo dos que compreenderam a essência da palavra amor. Esse é o universo minúsculo demais para a grande maioria dos mortais, imersos em seu gigante e desproporcional ego.
Tomando minhas as palavras de Henrique Goldman, sigo o raciocínio:
“Presos ou solto, nós, seres humanos, somos muito cegos e sós. Quase nunca conseguimos transcender os nossos estreitos limites para enxergar os outros e a nós mesmos sem projetar o nosso próprio vulto na face alheia e a cara dos outros na nossa”. Como dizia Sartre, ironicamente: “O inferno são os outros”. E por isso sofremos tanto, perdidos e atordoados no labirinto escuro e gelado que não sabemos se é nosso ou alheio.

Ed França
*Texto criado para catálogo da série de trabalhos “Cubos”. 2002.



















nas imagens: série Cubos, acrílica sobre tela, 2004. Informações adicionais sobre tamanhos, datas, etc, no site oficial do artista, aqui.
no som: Penumbra_conception.
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